A abordagem sistêmica é uma proposta de trabalho com as pessoas, as relações e o sistema humano, visto que o sujeito é sempre referido por um sistema e a matriz de sua identificação é a família. O presente texto tem por objetivo traçar um breve histórico sobre a construção da abordagem sistêmica, bem como entender o manejo da terapia sistêmica de casais, e do processo da terapia familiar. Assim, entende-se que esse procedimento terapêutico levou a mudanças de paradigmas e possibilitou novos olhares para a constelação psíquica que constitui a dinâmica das relações interpessoais sistêmicas, possibilitando diferentes conexões, diálogos, aplicabilidade e funcionalidade do manejo clínico.
Na amplitude da ciência psicológica, entende-se por terapia ou abordagem sistêmica um conceito utilizado para se referir aos diferentes segmentos sociais em que o sujeito encontra-se inserido, isto é, no contexto familiar, social, escolar, comunitário. Nessa perspectiva, esses segmentos se envolvem mutuamente e formam um sistema em relação.
Assim, o trabalho sistêmico pode ser indicado para todas as faixas etárias, e visa escutar e acolher o sofrimento psíquico do sujeito ou alguma forma de dificuldade emocional nesses contextos sistêmicos. Nesse sentido, o procedimento terapêutico pode ser realizado de modo individual, com casais, ou familiar.
O processo terapêutico tem o objetivo de intervir de modo intenso e por tempo limitado, com o intuito modificar o padrão de relacionamento intra ou extra-familiar. Esse trabalho pode ser realizado através de uma reflexão sobre suas questões individuais, seus processos de convivência familiar ou com o seu cônjuge. As técnicas utilizadas na abordagem sistêmicas são pautadas no aqui e agora, ou seja, no intuito de estabelecer uma aliança em terapeuta, e contribuir para a melhoria da comunicação nos relacionamentos interpessoais sistêmicos.
A princípio, o referencial da Terapia Sistêmica pautou-se exclusivamente ao atendimento às famílias. Porém, com o desenvolvimento científico, metodológico e prático da abordagem, a teoria foi se reestruturando para também compreender o funcionamento dos sujeitos em seus contextos individuais, bem como na realização da clínica individual.
Para o surgimento de um modelo teórico alguns desdobramentos, mudanças de paradigmas e visões são essenciais para fundamentar e dar consistência ao trabalho. Dessa forma, a construção do modelo teórico sistêmico partiu de indagações aos modelos tradicionais de abordagem do ser humano, dando ênfase às relações sistêmicas, nos contextos: familiar, social, escolar, comunitário.
O nascimento deste modelo ocorreu nos Estados Unidos num contexto de mudança de paradigma: a passagem do pensamento analítico ao pensamento sistêmico que tem como principal corolário “é preciso reunir para compreender”, colocando a tônica no estudo das relações e das interações, substituindo a causalidade linear pela causalidade circular. Assim, torna-se impossível isolar o indivíduo do seu meio, ambos evoluem simultaneamente e mudam reciprocamente. A importância do contexto torna-se mais clara, bem como a noção de co-evolução, que é determinante da terapia familiar (RELVAS, 1999).
Para entender acerca desse trabalho se faz necessário uma contextualização histórica. A abordagem sistêmica teve seu início na década de 40, em que era utilizado apenas o enfoque psicanalítico e um diagnóstico linear de causa-efeito para observar as relações sistêmicas.
Nos anos 50, as sessões começam a serem realizadas com todos os membros da família, ainda com foco nas ideias psicanalíticas. Posteriormente, esse movimento ganhou um novo enfoque na compreensão do funcionamento sistêmico. A partir de 1960 as linhas terapêuticas vão se diferenciando. Tal diferenciação ocorre devido aos vários grupos de terapeutas que se interessam em desenvolver seus estudos sobre os vários aspectos da compreensão sistêmica.
Entre os mais importantes autores no âmbito da terapia familiar e do seu desenvolvimento, encontra-se: Milton Erickson (psiquiatra americano) que desenvolveu a história clínica e uma forma muito particular de fazer terapia assente numa invulgar intervenção terapêutica. Embora nunca se tenha centrado no trabalho terapêutico com famílias, influenciou em muito as ideias dos homens de palo alto. Também não devemos ignorar as contribuições de Bateson (1904-1980), que depois de formações em biologia, trabalhos de cibernética com Foerster, N.Wiener e K.Lewin, vai para Palo Alto, com um convite para participar num projeto, aplicando os conceitos sistêmicos à comunicação, e desta à psicopatologia e psicoterapia da esquizofrenia (RELVAS, 1999).
Na área "psi", podemos ressaltar algumas postulações teóricas de autores que colaboram para o surgimento da terapia familiar. Um importante precursor, sem dúvida, foi Adler que enfatiza, na sua teoria do desenvolvimento da personalidade, a importância dos papéis sociais e das relações entre estes papéis na etiologia da patologia. Influenciado pelas teorias de Adler, Sullivan coloca que a doença mental tem origem nas relações interpessoais perturbadas e que um entendimento mais completo do indivíduo só pode ser alcançado no contexto de sua família e de seus grupos sociais. Sullivan coloca, assim, a patologia na relação, na dimensão interacional (CARNEIRO, 1996).
A terapia familiar também associa-se a sua variante de terapia de casal, dada à sua origem no seio do modelo sistêmico. A terapia de casais visa compreender os problemas em termos de interação do casal com os sistemas, tendo em vista que tais relacionamentos são considerados com um fator determinante para a saúde mental.
Nos dias atuais, alguns problemas são comuns a diversas pessoas, como doenças, desemprego e aposentadoria, mas quando se trata de casal, além dessas,podem aparecer outras problemáticas, como brigas, difi culdade de relacionamento afetivo e amoroso e até o divórcio. Para tanto, há estudos que tentam identificar as características dos processos interacionais, que ao longo do tempo, podem permitir aos casais fortalecer a flexibilidade e sair das crises com o mínimo de desgaste possível ou até mesmo mais unido (WALDEMAR, 2008).
Sadock e Sadock (2007) explicam que a maioria das pessoas vive em uma matriz de relacionamento na qual encontram conexão, consolo, intimidade e felicidade. No entanto, também experimentam obrigações, responsabilidades, compromissos e atritos. No caso do casal, a saúde psicológica e a sensação de bem-estar dependem, em grau significativo, da qualidade do relacionamento entre os parceiros, ou seja, dos padrões de interação estabelecidos.
Desse modo, a terapia de casais objetiva auxiliar os cônjuges nas dificuldades específicas que eles estão vivendo. De modo que contribua para identificar os pontos de conflito existentes na relação e a determinar quais as mudanças desejáveis, sejam no modo de se relacionar, sejam mudanças individuais.
A terapia familiar surgiu dos problemas da clínica psiquiátrica ligados a certos impasses pragmáticos que a realidade cotidiana colocava aos terapeutas. Aparece como um recurso diante de realidades inextrincáveis por meio da criação de acontecimentos singulares: inscrevendo-se no tempo e no espaço, modificando a evolução da família; estabelecendo uma conexão entre a semiologia do corpo e a do espírito; dos modos de conduta, emoção e pensamento de microssistemas familiares. A terapia familiar é composta por vários modelos, em que cada um deve ser visto como um sistema em si mesmo que funcionam como uma espécie de quadro, de guia de leitura e intervenção que fixa o objeto de estudo sem se confundir com ele (MIERMONT, 1994).
O terapeuta familiar pode oferecer uma melhora das interações no interior do sistema familiar e fazer um processo de recodificação de mensagens, onde possibilita a maior compreensão nas suas comunicações. Também pode facilitar uma busca e descoberta de novos caminhos de relação sistêmica, incitar a todos para atuarem e descobrirem onde convém introduzir mudanças para favorecer uma evolução e um amadurecimento ao paciente identificado e em todo sistema.
Para Carneiro (1996) a terapia desenvolvida a partir deste enfoque enfatiza a mudança no sistema familiar, sobretudo pela reorganização da comunicação entre os membros da família. O passado é abandonado como questão central, pois o foco de atenção é o modo comunicacional no momento atual. A unidade terapêutica se desloca de duas pessoas para três ou mais à medida em que a família é concebida como tendo uma organização e uma estrutura. É dada uma ênfase a analogias de uma parte do sistema com relação a outras partes, de modo que a comunicação analógica é mais enfatizada que a digital.
A partir das observações realizadas através da literatura específica compreende-se que o foco da terapia sistêmica é possibilitar a autonomia ao sujeito, despertar a consciência acerca das responsabilidades, das escolhas, e estimular a mudança nas pautas disfuncionais. Ao promover uma mudança no sistema familiar, muda-se automaticamente o padrão de interações interpessoais nesse contexto. Portanto, é necessário à atualização e divulgação desse saber para a promoção de um atendimento de qualidade nas relações sistêmicas.
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicologia-sistemica/algumas-contribuicoes-sobre-a-abordagem-sistemica © Psicologado.com